Da potência imaginativa do infantil à poesia como experiência
O universo onírico da produção artística de Flávia Junqueira ocupa o espaço expositivo do Centro Cultural Fiesp, a partir do dia 18 de setembro, com a mostra Extasia, neologismo que mescla o sentimento de êxtase com o delírio da fantasia.
Com curadoria de Bianca Coutinho Dias, a exposição apresenta um panorama multidisciplinar de Flávia Junqueira, com obras que atravessam os últimos cinco anos de sua produção e transitam por linguagens diferentes. O espaço será composto por criações em suportes como instalações, fotografias, objetos em uma experiência imersiva.
Flávia reúne um recorte de obras que será exposto em conjunto pela primeira vez. Entre elas está a série Magic Carnnival, com objetos-obra em madeira jatobá que personificam os assentos em formatos de animais dos carrosséis, assim como fotografias de teatros, bibliotecas e monumentos icônicos, captadas sempre com a presença de balões de látex, ressignificando esses espaços históricos e criando uma atmosfera de sonho e encantamento.
Os três ambientes que compõem a mostra criam um mundo fantástico. Ao entrar no espaço, o público encontra, espalhados por todos os lados, reproduções dos balões presentes nas fotografias, mas desta vez em acrílico, assim como luzes de parque de diversão, cortinas de teatro e cavalos de carrossel. Estes elementos transformam e refundam o jogo de presença-ausência de maneira mágica e, ao tocar o que é indescritível e misterioso, colocam a infância como ponto fundamental da obra da artista.
“São cenários onde o extraordinário invade o cotidiano, criando uma sensação de suspensão entre o real e o imaginário. Sou apaixonada por explorar a interseção entre o lúdico, o fantástico e o histórico”, pontua Flávia. “Minha prática artística envolve a criação de narrativas visuais que conectam a infância, o tempo e a memória, utilizando espaços culturais emblemáticos como palcos para essas histórias”, comenta a artista.
Projeto Contemporâneas Vivara apresenta instalações inéditas de Flávia Junqueira
A partir de 14 de setembro, o Parque Ibirapuera recebe obras imersivas
na primeira exposição ao ar livre da artista
O projeto Contemporâneas Vivara retorna em 2024 com em sua quarta edição com aBanca Galeria, desta vez sob a criatividade da renomada artista Flávia Junqueira. Conhecida por suas obras que mesclam o real e o fictício, Flávia estreia sua primeira exposição ao ar livre, criando um caminho imersivo com oito trabalhos que evocam a magia dos circos antigos e a nostalgia de uma infância romântica. Sediada no Parque Ibirapuera e idealizado pela Tête-à-Tête, a quarta edição estará disponível para visitação a partir de 14 de setembro até 14 de novembro.
Patrocinado pela Vivara e viabilizado por meio de Lei Federal de Incentivo à cultura, o Contemporâneas Vivara busca democratizar a arte brasileira e tornar a cultura acessível a todos, utilizando espaços públicos de maneira criativa e inclusiva, com foco em produções femininas. Nesta edição, Flávia Junqueira usa elementos icônicos de seu trabalho, como balões, espelhos e plataformas reflexivas, criando uma narrativa espacial coesa e harmônica. As obras brincam com escalas e cores, transportando o espectador para um universo imaginário onde o passado e o presente se encontram.” “Temos o orgulho de, pelo quarto ano consecutivo, participar desse projeto verdadeiramente democrático, que lança luzes sobre a poética de artistas brasileiras. Para esta edição, é uma alegria e uma honra trazer uma artista de tamanha projeção no universo das artes como Flavia Junqueira. Pela primeira vez, suas obras estarão expostas em um espaço aberto, permitindo que um público mais amplo possa apreciar sua inventividade.”, ressalta Leonardo Bichara, Diretor de Marketing e Varejo Vivara.
Para Flávia, esta é uma oportunidade de explorar novas dimensões de seu trabalho. “A Banca Galeria é composta de algumas instalações que trazem elementos que as pessoas conhecem no meu trabalho na fotografia, como os balões, por exemplo;as cores, muita cor; as escalas dos objetos, vamos também brincar muito com essas escalas. Trago também uma nostalgia da minha infância, de uma infância dos anos 90 e que talvez as crianças nem conheçam hoje em dia,” comenta a artista.
Rêverie
Exposição individual da artista Flávia Junqueira na Zipper Galeria com curadoria de Carolina Lauriano, 21/03 a 04/05 de 2024.
Em tradução livre, a palavra rêverie pode ser compreendida como um estado agradável de perder-se nos próprios pensamentos. Da sua etimologia em língua francesa, quer dizer sonho. Para a psicanálise, é o momento de intuição do analista acerca do paciente. Essa sutileza, de saber o que se passa com o Outro, é o que a psicanálise compreende como tarefa do psicanalista no processo de manejamento da transferência.
De algum modo, essa noção proposta pela psicanálise possui certa dimensão poética, intuitiva e de horizonte metalinguístico, que também é um estado inerente à arte e ao fazer artístico. Ora, se esse não é o caminho que o conjunto de obras criadas por Flávia Junqueira para essa exposição nos sugere pensar. Não à toa, o título da mostra refere-se a uma circunstância de devaneio.
Ao adentrar a sala térrea da galeria, o visitante se depara com um carrossel flutuando no espaço. A Passarela de espelhos foi pensada estrategicamente para fornecer uma outra camada de elementos que não somente instigam o olhar, mas também evocam outras sensações. Neste lugar ocupado pelo interjogo de rêveries é que o trabalho de Flávia Junqueira atinge seu ápice. Quando ela transfere para o espectador essa profundidade poética capaz de produzir novos sentidos para o objeto de arte, e, por consequência, apontar que sonhamos e pensamos o mundo com nossas emoções.
Nesta sala, a construção cenográfica, que habitualmente orienta seu trabalho, ganha outra escala. Enquanto suas fotografias buscam a dramaticidade por meio da encenação, ao nos deparar com um brinquedo de parque de diversão in loco. É como se a artista nos colocasse como sujeitos atuantes daquilo que suas imagens nos sugerem: a criação de memórias que, para a artista, me parece acontecer no limite entre a história e a fabulação.
Ao nos fazer reconhecer algum sentimento ligado a essa cena, Flávia Junqueira estabelece um diálogo capaz de ativar ou produzir novas lembranças. Há quem irá se conectar com lugares do passado, em uma espécie de nostalgia, ou quem irá experienciar uma situação nova, que futuramente poderá ser resgatada. Independente da situação, um marco será criado e a experiência estará registrada para sempre na vida de quem entrou em contato com esse universo onírico.
Aqui, adentramos tão profundamente em nossas memórias e nos encontramos envoltos a uma magia que só a arte pode proporcionar. Criar uma ficção para que a realidade nos seja possível. E é nesse momento que a mágica acontece. Quando não há mais pretensão de desvendar o truque, mas sim, deixar-se encantar por ele. Rêverie no cerne de sua revelação.
Revelar, inclusive, é uma outra possibilidade de tradução da palavra. E essa perspectiva vem à tona no segundo andar da galeria. Ao adentrar a cortina de veludo, Flávia Junqueira apresenta um conjunto de quatro fotografias em grande formato. Ali, os elementos característicos de sua composição cenográfica ocupam o Palácio de Linares, em Madri.
Ao centro da sala, encontra-se uma peça instalativa que abriga a série “Magic Carnivals”, uma reunião de pequenos e encantadores – animais colecionáveis que, juntos, ao final da coleção, formam um carrossel. Aqui, trago a ideia de revelação não porque parece que a artista revela o processo final de uma cena que poderia ter sido capturada na sala principal – o que provavelmente será feito por muito dos visitantes. Enquanto no espaço térreo cativa-se o espectador ativando suas recordações, neste segundo espaço, surge um outro fluxo de pensamento sobre o quão manipuladas ou desmembradas podem ser nossas construções de memória. E não que isso seja algo indesejável.
Como dito anteriormente, é nesse lugar entre o real e o sonho que as memórias acontecem. E esse contraponto fica muito visível na quinta fotografia que compõe a mostra. Localizada no piso térreo, ao fundo da galeria, “Engenho de Piracicaba, 1881” traz pontos de vista que abarcam todos e traz os questionamentos levantados pela artista não só nesta exposição, mas em todo seu corpo de trabalho. Ao colocar em paralelo a ruína do engenho com a vivacidade do carrossel, interessa a Flávia Junqueira apontar que há beleza não somente na opulência dos teatros que fotografa ao redor do mundo. É também preciso olhar para aquilo que desmorona, e por que não enxergar onde reside a beleza nisso? Há de haver sempre um carrossel girando suspenso ao que está prestes a ruir.
Zip UP com obras fotográficas e cúpulas produzidas pela artista
Chateau Fontainebleau , 2022.
Diana Gallery, Chateau de Fontainebleau #1, 1137. Pigmento mineral sobre papel de algodão. 150 x 172 cm.
Amparo, Parque de diversão,2020
Amparo, Parque de diversão,2020#1.Pigmento mineral sobre papel de algodão 125×203 cm.
Liceu Opera Barcelona, Espanha, 2022.
Liceu Opera Barcelona, 1847, Espanha #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 190 cm, 2022.
Liceu Opera Barcelona, 1847, Espanha #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 190 cm, 2022.
Liceu Opera Barcelona, 1847, Espanha #3. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 190 cm, 2022.