Projetos

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Projeto Contemporâneas Vivara apresenta instalações inéditas de Flávia Junqueira 

A partir de 14 de setembro, o Parque Ibirapuera recebe obras imersivas
na primeira exposição ao ar livre da artista

Crescer e sonhar parecem ser verbos que se distanciam à medida que os anos passam. A criança habita um tempo sempre presente que se estica: com uma percepção dilatada, os minutos se arrastam em horas que se arrastam em dias, as coisas pequenas são grandes e as sensações, à flor da pele. A infância é o lugar onde a imaginação e a realidade se embaralham, criando um mundo mágico de possibilidades infinitas. Movidas por um sonhar que não vê contornos, a criança busca ser genuína consigo mesma e, a todo momento, experimentar a vida pela primeira vez. 

Ao subir no palco da vida adulta, o tempo passa a exercer sua função cronológica, conforme é concebida no cotidiano, escorrendo pela ampulheta no tique-taque do despertador. As horas e os dias parecem estar em descompasso com os sentimentos, um tempo regido por humores e sensações subjetivas. A alegria e o prazer são geralmente acompanhados pela sensação de passagem rápida do tempo; enquanto a tristeza, o medo e a espera parecem fazer de cada minuto um século. 

A saudade — palavra tão cara ao português — tem na nostalgia uma forma de encontrar a criança que, sem limites, brinca e sonha dentro de nós. Para o projeto Banca Galeria 2024, o Contemporâneas Vivara convida a artista Flávia Junqueira para imaginar a sua primeira exposição ao ar livre: um parque de esculturas que transporta o seu trabalho para uma experiência tridimensional interativa-contemplativa em um conjunto coeso e harmônico. 

Partindo do imaginário universal dos parques de diversão antigos, da magia dos circos e da nostalgia de uma infância romântica, a artista cria uma narrativa espacial pontuada pelos seus trabalhos e por uma experiência única, lúdica e onírica, apreciada por todas as idades. Em um tempo suspenso, crianças e adultos poderão compartilhar de um espaço criado para deixar voar livremente os sonhos. 

Artista visual consagrada, Flávia Junqueira é conhecida por criar cenas onde o real e o fictício, o físico e o alegórico, o presente e o passado se combinam; onde a História se torna uma memória. Ela cria paisagens imaginárias caprichosas e festivas, nas quais mergulhamos no cenário mágico da cultura local, apreciando a beleza do tempo, ouvindo o silêncio do passado. 

Para o maior parque da cidade de São Paulo, a artista imaginou um jardim de esculturas com oito instalações inéditas, pontuadas por espelhos, brinquedos, um carrossel, labirintos, cores, luzes e os famosos balões que, em suas obras, são os protagonistas que sobem ao palco, seja ele a rua ou o céu. Tirando a realidade de seu eixo, Flávia constrói um espaço que permite outra experiência do real, não uma fuga, mas a suspensão de um tempo dilatado que nos lembra a beleza de poder ser criança.

EXTASIA

Da potência imaginativa do infantil à poesia como experiência

O universo onírico da produção artística de Flávia Junqueira ocupa o espaço expositivo do Centro Cultural Fiesp, a partir do dia 18 de setembro, com a mostra Extasia, neologismo que mescla o sentimento de êxtase com o delírio da fantasia.

Com curadoria de Bianca Coutinho Dias, a exposição apresenta um panorama multidisciplinar de Flávia Junqueira, com obras que atravessam os últimos cinco anos de sua produção e transitam por linguagens diferentes. O espaço será composto por criações em suportes como instalações, fotografias, objetos em uma experiência imersiva.

Flávia reúne um recorte de obras que será exposto em conjunto pela primeira vez. Entre elas está a série Magic Carnnival, com objetos-obra em madeira jatobá que personificam os assentos em formatos de animais dos carrosséis, assim como fotografias de teatros, bibliotecas e monumentos icônicos, captadas sempre com a presença de balões de látex, ressignificando esses espaços históricos e criando uma atmosfera de sonho e encantamento.

Os três ambientes que compõem a mostra criam um mundo fantástico. Ao entrar no espaço, o público encontra, espalhados por todos os lados, reproduções dos balões presentes nas fotografias, mas desta vez em acrílico, assim como luzes de parque de diversão, cortinas de teatro e cavalos de carrossel. Estes elementos transformam e refundam o jogo de presença-ausência de maneira mágica e, ao tocar o que é indescritível e misterioso, colocam a infância como ponto fundamental da obra da artista.

“São cenários onde o extraordinário invade o cotidiano, criando uma sensação de suspensão entre o real e o imaginário. Sou apaixonada por explorar a interseção entre o lúdico, o fantástico e o histórico”, pontua Flávia. “Minha prática artística envolve a criação de narrativas visuais que conectam a infância, o tempo e a memória, utilizando espaços culturais emblemáticos como palcos para essas histórias”, comenta a artista. 

Teatro Circo, 1915, Braga, 2024

Teatro Circo #1, 1915, Braga. Pigmento mineral sobre papel algodão. 150 x 158 cm.

Teatro Circo #2, 1915, Braga. Pigmento mineral sobre papel algodão. 150 x 158 cm.

tivoli

"THEATROS"

Nascida em 1985 em São Paulo, Flávia Junqueira entrou com força no cenário internacional pelo frescor de suas abordagens. Junqueira nos apresenta cenas onde se conjugam o real e o fictício, o físico e o alegórico, o presente e o passado, o adulto e a criança; onde a história se torna memória. Ela é a criadora de paisagens imaginárias caprichosas e festivas, nas quais mergulhamos no cenário distante da cultura nacional, sentindo o peso da história, ouvindo o silêncio do passado. Em suas obras, os balões são os performers que sobem ao palco, seja qual for o teatro, seja na rua ou no céu.

Flávia Junqueira constrói um trabalho que investiga aspectos relacionados à representação e suas ligações com a história. Embora extremamente pictórica, suas fotografias têm um interesse muito mais escultural. Ao ocupar lugares históricos com balões, criam-se delicadas celebrações da impermanência. Junqueira dá vida a esses lugares buscando uma configuração espacial, ainda que aparentemente lúdica; a artista constrói uma crítica da (dis)funcionalidade dos sistemas artísticos, arquitetônicos e políticos através de sua delicada metáfora. Uma paisagem transitória que representa um salto no vazio, uma reflexão sobre a superficialidade dos tempos atuais e um estímulo para que tudo passe.

EXPOSIÇÃO

“Theatros”

Dia 27 de julho de 2024

Mais de 1000 pessoas visitaram, em apenas oito horas, a exposição imersiva de Flávia Junqueira que decorou o Teatro Tivoli BBVA, no sábado, dia 27 de julho de 2024, com mais de 1000 balões.

A entrada para a exposição, que esteve patente pela primeira vez em Portugal, foi feita mediante um donativo que totalizou 2.943€ que reverteram, na totalidade, a favor da Apoiarte – Casa do Artista.

Os icônicos cenários criados pela artista Flávia Junqueira, imortalizados em formato fotográfico, ganharam assim vida no Teatro Tivoli BBVA, numa viagem integrada na série “Theatros”, que despertaram a atenção e interesse dos visitantes, num convite para uma viagem à alegria através da simplicidade do imaginário da artista.

 

Fotos realizadas na Instalação aberta ao público:

Vlog com registros da montagem da instalação:

Casa da Ópera de Vila Rica. Teatro Municipal de Ouro Preto. 1770 - 2024.

Teatro de Ouro Preto #1, Minas Gerais, 1769 2024. Pigmento mineral sobre papel algodão. 150 x 194 cm.
Teatro de Ouro Preto #2, Minas Gerais, 1769 2024. Pigmento mineral sobre papel algodão. 150 x 194 cm.

Salón Embajadores, Palacio de Linares, Madri, 1887 - 2023.

Sala dos Embaixadores/Palácio de Linares #1, 1873, Madrid. Pigmento mineral sobre papel algodão, 150x155cm, 2023.
Palácio de Linares #2, 1873, Madrid, Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 152 cm, 2024.
Palácio de Linares #3, 1873, Madrid. Pigmento mineral sobre papel algodão, 150x189cm, 2024.
Palácio de Linares #4, 1873, Madrid. Pigmento mineral sobre papel algodão, 150x174cm, 2024.
Palácio de Linares #5, 1873, Madrid. Pigmento mineral sobre papel algodão, 150x172cm, 2024.

Magic Carnivals. 1988 - 2023.

Magic Carnival #2. Girafa. Girafa de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnival #2 Cavalo Florido. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Camelo. Camelo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Cavalo #2. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Leão. Leão de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Elefante. Elefante de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Tigre. Tigre de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Cavalo #3. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Cavalo #4. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Cavalo #5. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Porco. Porco de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Cavalo #8 Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnivals #2. Cavalo #7. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnival #2. Zebra. Zebra de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.
Magic Carnival #2. Cavalo #6. Cavalo de porcelana, madeira, vidro, latão e mecanismo musical de corda. 35x19cm, 1988 - 2023.

Les Pavillons de Bercy - Musée des Arts Forains, Paris, 1996 - 2023.

Les Pavillons de Bercy - Musée des Arts Forains, Paris, 1996, #1. Pigmento mineral sobre papel algodão, 150x148cm, 2023.

Carnival Carousel. 1988 - 2023.

Cavalo #1. Pigmento mineral sobre papel algodão, 42x30cm, 1988 - 2023.
Camelo #1. Pigmento mineral sobre papel algodão, 42x30cm, 1988 - 2023.
Cavalo #2. Pigmento mineral sobre papel algodão, 42x30cm, 1988 - 2023.
Elefante #1. Pigmento mineral sobre papel algodão, 42x30cm, 1988 - 2023.
Leão #1. Pigmento mineral sobre papel algodão, 42x30cm, 1988 - 2023.
Tigre #1. Pigmento mineral sobre papel algodão, 42x30cm, 1988 - 2023.

Château de la Mothe-Chandeniers, França. 1200 - 2023.

Château de la Mothe-Chandeniers, França, 1200. Pigmento mineral sobre papel algodão. 150x100cm. 2023.

Instalação Revoada - 8ª edição Modernos Eternos, "Prédio verde" BH. 2023.

Revoada, instalação. 8ª edição da Modernos Eternos, "Prédio verde", BH (20/06 a 09/07) Balões de vidro soprado em cores diversas (47cm de diâmetro), presos ao teto com cabo de aço.
Revoada – Foto dos balões utilizados nas exposições
Revoada, Modernos Eternos - Vídeo

Engenho de Piracicaba, 1881 - 2023.

Engenho de Piracicaba, 1981, Brasil. Pigmento mineral sobre papel algodão. Edição: 5. 150 x 187cm. 2023.

Liceu Opera Barcelona, Espanha, 2022.

Liceu Opera Barcelona, 1847, Espanha #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 190 cm, 2022.

Liceu Opera Barcelona, 1847, Espanha #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 190 cm, 2022.

Liceu Opera Barcelona, 1847, Espanha #3. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 190 cm, 2022.

SALTO AO VAZIO

Nascida em 1985 em São Paulo, Flávia Junqueira entrou com força no cenário internacional pelo frescor de suas abordagens. Junqueira nos apresenta cenas onde se conjugam o real e o fictício, o físico e o alegórico, o presente e o passado, o adulto e a criança; onde a história se torna memória. Ela é a criadora de paisagens imaginárias caprichosas e festivas, nas quais mergulhamos no cenário distante da cultura nacional, sentindo o peso da história, ouvindo o silêncio do passado. Em suas obras, os balões são os performers que sobem ao palco, seja qual for o teatro, seja na rua ou no céu.

Flávia Junqueira constrói um trabalho que investiga aspectos relacionados à representação e suas ligações com a história. Embora extremamente pictórica, suas fotografias têm um interesse muito mais escultural. Ao ocupar lugares históricos com balões, criam-se delicadas celebrações da impermanência. Junqueira dá vida a esses lugares buscando uma configuração espacial, ainda que aparentemente lúdica; a artista constrói uma crítica da (dis)funcionalidade dos sistemas artísticos, arquitetônicos e políticos através de sua delicada metáfora. Uma paisagem transitória que representa um salto no vazio, uma reflexão sobre a superficialidade dos tempos atuais e um estímulo para que tudo passe.

Do que ele está fugindo?

De um modo de vida melancólico e ansioso, que foi engendrado pela concepção moderna de tempo linear e evolutivo. Acredito que esse ideal de progresso nos distancia do aqui e agora da existência, condição para uma vida alegre e lúdica.

Cite um exemplo do salto no vazio que a sociedade deve dar nos próximos anos.

Precisamos nos livrar das promessas da modernidade que, obviamente, não serão cumpridas. Nossa fé nesse modelo de desenvolvimento tem sérias implicações que, além de subjetivas e existenciais, são econômicas, políticas e ecológicas.

Qual obra de arte melhor representa o salto para o vazio?

Estou pensando nos slides de Carsten Höller, que não só representam um salto no vazio, mas também nos desafiam a “saltar”. Com seu trabalho, Höller nos lembra que somos um corpo e que a arte pode ser um espaço privilegiado para exercitarmos outros olhares sobre o mundo.

INSTALAÇÃO

11 de outubro de 2022 – horários a definir

Sala de estar

EXPOSIÇÃO

Junqueira no Liceu

De 26 de outubro a 03 de novembro de 2022

Saló dels Miralls

Voar, já que o sonho é possível…  

por Marcos Moraes

 

A imaginação pode nos fazer mergulhar em estados e dimensões que muitas vezes não conseguimos controlar e, mesmo diante de situações e imagens conhecidas, nos lançamos em viagens pelas memórias e sensações ativadas por essas condições. Essa pode ser uma cortina que se abre para nossos olhares, frequentemente adormecidos, ou anestesiados pelo cotidiano, mas que anseiam por lançar-se em revoadas pelos espaços da memória e da imaginação.

Nascem deste desejo por romper a rigidez em uma possível compreensão racional dos espaços, e a busca por questionar a hierarquia de nossas informações, as proposições de Flávia Junqueira nos convidando a novas miradas por lugares que julgamos conhecer e, por histórias que julgamos dominar. Voar, como sonhar, é preciso… e é possível quando somos impactados e deslocados de nossas certezas imediatas e não questionadas. 

As pesquisas de Flávia Junqueira debruçam-se sobre o espaço teatral há mais de uma década, incluindo sua experiência inicial com cenografia e arquitetura teatral. A essa somou-se a formação em artes visuais, e o interesse pelo meio fotográfico que se tornou, de início, a linguagem com a qual produziu registros de conjuntos de objetos familiares, e do universo infantil, com séries como Na Companhia dos Objetos, de 2008, e A Casa em Festa, de 2009/2010, ou ainda Empilhamento, 2010. 

Nestas séries explorava, pelo acúmulo de objetos/ brinquedos, as possibilidades de imagens do universo infantil, inserindo-os em ambientes de sua casa, criando um estranhamento nesse espaço da convivência familiar. Nesse cenário ela se insere literal e, corporalmente, performa para a câmera, em uma encenação dentro desse universo de aparente ingenuidade e de fragilidade, mas assumidamente pervertendo uma primeira leitura nessa direção.

Retomar esse percurso cronológico do início dessa linha de pesquisa, na produção da artista propõe, para além de biografar, revelar as origens da produção aqui apresentada, afirmando e articulando-a, ao longo dessa década, com as imagens aqui apresentadas. 

A sequência das séries acima é produzida em deslocamentos geográficos e culturais para, respectivamente, Paris e Donestk. Na primeira cidade o encontro impactante com o peso da tradição, a memória de um passado presente a todo momento e lugar, em seus descolamentos pela cidade, se apresenta, frequentemente, como explicitação de finalizações identificáveis nas camadas de ruínas – destruição – que simultaneamente constroem essa paisagem aos olhos da artista. 

É em Paris, com a série Ele ainda não está aqui, de 2011 que os balões já se apresentam como a materialização dos questionamentos sobre impermanência, perenidade, pelo caráter efêmero da matéria, ainda que ela se apresente na leveza e inocência, claro que apenas aparentes, desses globos coloridos. Inicia-se, na vivência parisiense, a prática de trabalho com esses elementos e a consolidação dessa reflexão permanente sobre o contraste acerca da leveza e da beleza, em contraposição ao efêmero e à noção de destruição e ruína.

Importante mencionar, ainda, que é daquele momento o início da prática coletar informações e referências visuais e, a partir do qual ela produz pela primeira vez a construção de um mapeamento exaustivo: o dos carrosséis que se espalham por Paris. Também desse procedimento decorre um olhar nostálgico em sua alusão ao universo colorido, fantasioso e mágico, infantil que nos remete ao tempo e a uma inocência perdida, que se busca resgatar.

Já o seguinte destino, nesse processo de deslocamento que Flávia Junqueira empreende esses referenciais parisienses se conectam com uma realidade verdadeira e assumidamente da ruína, imagem da destruição de sonhos revolucionários que a paisagem de restos soviéticos, em Donetsk apresentam, com força e vitalidade. O primeiro espaço de encenações – o Centro Cultural – surge como o campo de batalha do qual se erguerá essa peregrinação pela busca de afirmação da relevância de um trabalho que se debruce sobre a preservação de uma memória dos espaços teatrais, que se tornará fundamental na produção da artista.

Nesse raciocínio estabelecer uma prática de produzir uma condição teatral que insere um questionamento de noções de tempo e espaço, de lugar e pertencimento, passa constituir um dos focos de sua pesquisa que se tem ampliado nessas duplas dimensões, como assunto e tema, mas, principalmente, pela mescla de referências de memória (passado) e ações (presente) afirmando uma simultaneidade de tempos. Para tanto Flavia trabalha com referências cenográficas, de iluminação, e por que não dizer, de uma coreografia de cores e formas, com os balões, produzindo uma imagem que congela – em sua simultaneidade temporal – esse bailado orquestrado no espaço teatral: palco e plateia são, duplamente, o lugar da encenação o que nos coloca, como observadores e atores coadjuvantes desse jogo teatral no qual ela brinca conosco.

Essa ‘fotografia encenada’, como pode ser comumente identificada a linhagem na qual Flavia Junqueira tem desenvolvido sua produção pode ser entendida como uma prática artística que possibilita à artista adentrar espaços e situações detentores de uma história – por sua longevidade, ou inserção na cena cultural, ou ainda relevância arquitetônica… como espaços relevantes  – e, de lá, oferecer sua visão, construindo o inusitado olhar proposto para aqueles que observam esses novos “retratos” dessa realidade espacial, agora subvertida pela presença dos pequenos e multicoloridos objetos que, em seu estranhamento ao serem para lá deslocados, nos remetem, ainda, aos ciclos da passagem do tempo.

O espaço teatral dominado pela presença dos inúmeros e festivos balões, que subjugam a inicial seriedade, habitualmente atribuída a esses ambientes se vê, também, pervertido por essa presença colorida, imponente, mágica e livre, com as mais distintas e possíveis alusões pessoais ao universo infantil, ainda que quase óbvio, mas que se amplia, também, ao de todas as formas de festividades e celebrações, marcadamente dos ‘cumple años’, a que nenhum olhar consegue ficar insensível e impassível.

 

Esses processos e olhares motivaram e, pode se dizer mesmo, provocaram e instigaram Flavia Junqueira a empreender uma dupla jornada em busca dos teatros históricos no Brasil, mapeando e produzindo suas encenações perturbadoras da ordem estabelecida pela visão comum desses sisudos ambientes e históricos edifícios que testemunharam um século e meio dessa arquitetura teatral, espalhada pela vastidão continental do país, da floresta amazônica aos atuais centros econômicos e políticos brasileiros. 

Nessa perspectiva em uma década de buscas e de debruçar-se sobre esses espaços teatrais, nos quais intervém, simultaneamente à produção do mapeamento, a artista consolidou sua relação com as investigações motivadoras de proposições das encenações que realiza em cada uma das distintas condições desses ambientes culturais.

O convite para a realização da primeira empreitada europeia da série Revoada – identificação dos trabalhos realizados com os teatros – realizada no Grand Teatre del Liceu reveste-se, portanto, de importância e de muitas perspectivas desafiadoras para Flavia que, ao atravessar o Atlântico com seu ‘mapeamento’ iniciaria uma nova viagem, e de direção inversa na busca por esses espaços teatrais que inspiraram e motivaram aqueles que, no Brasil, foram objeto de sua pesquisa.

Dados como o isolamento social decorrentes da pandemia, as comemorações dos cento e setenta e cinco anos do “Liceu”, o início de um debruçar-se sobre a espacialidade referencial dos teatros europeus, entre outros, constituem-se em diferencial para essa nova etapa das Revoadas, e da pesquisa da artista, incitando, ainda a que novas possibilidades se abram para o trabalho.

A proposta, nesse sentido, ampliou-se de uma simbólica dimensão, ganhando força para “saltar no vazio” e, lançando-se em “mares nunca dantes navegados”, propor que a encenação/ ocupação/ intervenção ganhasse novo impulso, e desafiasse outras possíveis percepções para o trabalho. A imponência relevância e significado dessa realização, pela ocasião de iniciar o programa “Salto al vacio”, colocou-se como uma provoacação para trilhar novos caminhos, experimentar – e compartilhar – novas percepções e sensações, razões mais do que suficientes para dar passos em outras direções e, provocar, tanto quanto provocar-se, a caminhar, fazendo novos caminhos.

Como uma ruptura em suas práticas artísticas – tendo como base a encenação fotográfica – Flávia propõe aqui um chamamento à participação, acrescentando novas dimensões às esperadas fotografias, como eram até então produzidas. Encenar a situação de suspensão em que se encontram os balões, nesse espaço do Liceu, que é um lugar com história, e no qual a história também se faz nos contares de histórias, pareceu poder ficar reduzido diante da perspectiva de propor uma camada a mais de experiências sensíveis.

Pela primeira vez a proposta ampliou-se com o convite para que da “fotografia encenada” pudesse ser realizada uma intervenção no espaço e que essa pudesse ser vivenciada por uma parcela de público que lançaria olhares, mas penetraria com seus corpos essa revoada de cores e formas.

O espaço do Liceu ganhou por alguns dias, já que da preparação encenada para as fotos ampliou-se temporalmente a permanência e, numericamente, a presença dos balões para que pudessem receber e abraçar esses novos interlocutores: o “respeitável público” que, por alguns momentos teve a experiência de mergulhando na revoada de “objetos familiares”, e caminhando por entre o emaranhado de fios coloridos, atravessar a barreira da imagem para estar instalado na “companhia dos objetos”.

O maravilhamento da experiência de adentrar em um espaço onírico, instaura uma nova condição para o espaço, mas também para esses distintos públicos, incluindo-se aqui os funcionários do Liceu que atuaram, ou não, diretamente na produção e realização da ação, mas que como o público externo, desvelava o espaço, tratado de forma inusitada, com outros olhares.

Oswald de Andrade, um dos mais importantes intelectuais e criadores brasileiros, do século XX, propositor da ideia de antropofagia na cultura brasileira, insistia na necessidade de “rever tudo” e, dessa maneira, abrir-se para as experiências, deglutindo e repropondo visões do mundo. 

Podemos nos apropriar de sua proposição, que há cem anos nos provoca e ver como Flavia Junqueira nos leva a experimentar e a nos lançarmos nesse desafio:  sonhar, como forma de voar para novas perspectivas, nos lançarmos em permanentes desafios, buscar formas para superar o peso do recente passado. O sonho, o desejo e a paixão materializam-se como proposição de enfrentar os “inimigos invencíveis”, que nos assolam no dia a dia, mas que a arte nos alimenta a vencer.

 

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Chateau Fontainebleau , 2022.

Diana Gallery, Chateau de Fontainebleau #1, 1137. Pigmento mineral sobre papel de algodão. 150 x 172 cm.


Teatro Copacabana Palace, 2022.

Teatro Copacabana Palace, Rio de Janeiro, 1949 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão. 150 x 201 cm.

Torre Eiffel, Paris 2022.

Torre Eiffel, 1889 #1 . Pigmento mineral sobre papel de algodão, 162 x 150 cm, 2022.

Cavalo

Serigrafia de 10 cores em papel Hahnemühle, 42 x 60 cm. Edição de 60. 2022.


Teatro Santa Roza, João Pessoa, 2022.

Theatro de Santa Roza, João Pessoa, 2022 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 210 cm.

Theatro de Santa Roza, João Pessoa, 2022 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 210 cm.

Palacio de Fernan Nuñez, Madrid, 2022.

Palacio de Fernan Nuñez #1, 1847, Madrid. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 X 185 cm, 2022.

Palacio de Fernan Nuñez #3, 1847, Madrid, 2022. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Teatro Colón, Bogotá, Colômbia, 2022.

Teatro Colón, Bogotá, Colômbia, 1892 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 180 cm, 2022.

Teatro Colón, Bogotá, Colômbia, 1892 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão, 150 x 180 cm, 2022.

União Fraterna, São Paulo, 2021

União Fraterna, São Paulo, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 140 x 220 cm.


Galeria Suspensa, São Paulo, 2022.

Galeria Suspensa, São Paulo, 2022 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão110 X 110 cm.

Exposição Revoada #3 na Galeria Suspensa, Paço das Artes, São Paulo, 2022.

Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro, 2021

Real Gabinete Portugues de Leitura, Rio de Janeiro #3, 1837, 2021. Pigmento mineral sobre papel de algodão. 150 x 165 cm.

Real Gabinete Portugues de Leitura, Rio de Janeiro, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Real Gabinete Portugues de Leitura, Rio de Janeiro, 2021 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Capela Dourada, Recife, 2021

Capela Dourada, Recife, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Engenho de Piracicaba, São Paulo, 2021

Engenho de Piracicaba, São Paulo, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Engenho de Piracicaba, São Paulo, 2021 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Rio Piracicaba, São Paulo, 2021 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Palacio de Santoña, Madrid, 2022.

Palacio de Santoña, 1730 #1. Impressão digital com pigmentos minerais, 150 X 185 cm, 2022.

Palacio de Santoña, 1730 #2. Impressão digital com pigmentos minerais, 133 X 185 cm, 2022.

Palacio de Santoña, 1730 #3. Impressão digital com pigmentos minerais, 150 X 173 cm, 2022.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 2021

Jardim Botânico do Rio de Janeiro #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 220 cm. 2021

Jardim Botânico, Rio de Janeiro #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 220 cm. 2021

Jardim Botânico do Rio de Janeiro #3. Pigmento mineral sobre papel de algodão 185 x 150cm. 2021

Cinema São Luís, Recife, 2021

Cinema São Luís, Recife, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 203 cm.

Theatro de Santa Isabel, Recife, 2021

Theatro de Santa Isabel, Recife, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 210 cm.

Theatro de Santa Isabel, Recife, 2021 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão.

Revoada Instalação no Santander Porto Alegre, 2021

Revoada Instalação no Santander Porto Alegre, 2021. Instalação composta por balões de vidros de cores diferentes, fixados de maneira

Revoada – Foto da exposição Revoada no Farol Santander, SP, 2020.

Revoada – Foto dos balões utilizados nas exposições

Escolas de Samba, Rio de Janeiro, 2021

Mangueira, Rio de Janeiro, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 110 cm.

Academicos do Grande Rio, Rio de Janeiro 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 110 cm.

Beija-Flor, Rio de Janeiro 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 110 cm.

Salgueiro, Rio de Janeiro 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 110 cm.

Unidos do Viradouro, Rio de Janeiro 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 110 cm.

Mocidade Independente, Rio de Janeiro 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 110 cm.

Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 2021

Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 2021 #1. Pigmento mineral sobre papel de algodão 150 x 207 cm.

Faculdade de Direito do Largo São Francisco, 2021 #2. Pigmento mineral sobre papel de algodão150 x 207 cm.

Robb Report, 2018

FAAP, 2016

TWG, 2015

TRIP, 2015

Casa Claudia, 2014

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Elle, 2011

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Casa Vogue, 2010

Diário do Comercio, 2010

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Casa Vogue, 2011

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Casa Claudia, 2014

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FAAP, 2008

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